sexta-feira, 14 de junho de 2013

RESPONSABILIDADE SOCIAL E ÉTICA NO MARKETING

Prof. Sergio Enrique Faria

A questão da responsabilidade social e da ética vem sendo cada dia mais discutida em todos os setores e níveis da sociedade. Na área do marketing não poderia ser diferente!
Para começar, a maioria das pessoas não sabe a diferença entre responsabilidade social e marketing social. Até aí, tudo bem. O que não poderia acontecer, mas acontece, é o fato de algumas empresas desconhecerem ou mesmo ignorarem completamente estes importantes conceitos.
Empresas que sujam as ruas, rios ou o meio ambiente em geral com lixos, detritos, fumaça, pichação ou cartazes irregulares não têm uma política de responsabilidade social, que é, segundo Vaz (2005) “o termo usado para descrever as obrigações de uma empresa para com a sociedade onde ela está situada”.
Pois bem, qualquer empresa que tenha responsabilidade social e atenda aos seus clientes criando também valor para a sociedade pratica o marketing social, que é definido pelo mesmo autor como “a modalidade de ação mercadológica institucional que tem por objetivo atenuar ou eliminar problemas sociais, carências da sociedade relacionadas principalmente com questões de higiene e saúde pública, trabalho, educação, habitação, transporte e nutrição”. Temos como exemplos todas as empresas que possuem programas de ajuda a instituições carentes, cuidam de monumentos ou espaços públicos ou revertem parte de seu lucro em benefício da sociedade.
A empresa que ainda não se convenceu que obrigação a de uma companhia não se restringe à simples prestação de serviço e manutenção do mesmo, mais cedo ou mais tarde fechará as suas portas. As empresas precisam se conscientizar que se a população tem muitos problemas sociais e a população são seus clientes, logo, as empresas têm muitos problemas.  Se antes as empresas praticavam o Marketing Social para diferenciarem-se das outras, hoje praticam para sobreviver.
Pode-se dizer que a responsabilidade social caminha junto com a ética, que segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda é “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”. Entretanto, corroborando Emmanuel Kant, parece que a ética é uma coisa que todos precisam ter, alguns dizem que têm, poucos levam a sério e ninguém cumpre à risca.
Infelizmente a área de propaganda e marketing é uma das que mais padecem da falta de ética. As críticas mais comuns feitas à propaganda referem-se à propaganda enganosa, a qual dá ênfase a aspectos positivos que inexistem no produto ou serviço oferecido. Esta triste realidade está construindo uma imagem negativa do marketing na sociedade. Muitas pessoas acreditam que a propaganda e o marketing são técnicas próprias para enganar o consumidor. Pior que isso, sete em cada dez pessoas, quando perguntadas, respondem que já se sentiram enganadas por propagandas ao menos uma vez. O preconceito vem crescendo tanto que a palavra marketing chega a ser utilizada pelas pessoas de forma distorcida e pejorativa com frases do tipo: “não acredite em tal coisa, isso é puro marketing!”.
O Código de Ética dos Profissionais de Propaganda – CEPP - existe, assim como o Código Brasileiro de Auto-Regulamentação Publicitária, contudo estes nem sempre são seguidos. De acordo com o CEPP: o profissional de propaganda, ciente do poder que a aplicação de sua técnica lhe põe nas mãos deve comprometer-se apenas em utiliza-las em campanhas que visem o maior consumo dos bons serviços, ao progresso das boas instituições e à difusão de idéias sadias. Para tanto, jamais deve-se induzir o povo ao erro, lançar mão da inverdade ou disseminar a desonestidade ou vício. O profissional de propaganda agirá sempre com honestidade e a serviço da sociedade.
Mesmo com o CEPP, presenciamos vários marketeiros recomendando partir para a baixaria ou aniquilar os seus concorrentes pelo enlouquecimento. Um exemplo é o de uma rede de pizzarias, que oferecia um desconto de 50% para todas as pessoas que levassem o pedaço da lista telefônica onde estava o telefone de seus concorrentes.
Alguns empresários procuram praticar guerrilha pesada em marketing tomando por base livros como “How to drive yor competition Crazy”, (como levar seu concorrente à loucura). Guy Kawasaki, autor deste livro, prega entre outras idéias:

“Uma das poucas vantagens de ser pequeno é poder aprontar e alijar seus concorrentes do campo de batalha. Nenhuma empresa pequena deve perder tempo pensando nas eventuais conseqüências legais da prática de concorrência desleal.”

“Pequenas empresas devem sempre estar atentas aos pontos de vulnerabilidade de seus concorrentes. E depois atacar exatamente nesses pontos, impiedosamente.”

“Pequenas empresas devem permanecer o tempo todo fazendo movimentos que confundam seus concorrentes, e os induzam a avaliações equivocadas e erros.”
A situação não é diferente no setor varejista, quando muitas vezes a propaganda é feita pelo próprio gerente da loja que, invariavelmente desconhece ou não se preocupa com as questões regulamentares e éticas.
Ao passear no final de semana pelas lojas, shoppings e supermercados, reparem, por exemplo, como os comerciantes perderam a verdadeira noção do sentido da palavra “promoção”. A palavra que, por definição, deveria ser utilizada para designar uma ação especial na qual o consumidor obtém real vantagem na compra de um produto ou serviço, estampa agora as vitrines simplesmente para chamar a atenção de quem passa. Muitas lojas em “promoção” continuam a praticar os mesmos preços e condições de pagamento de antes da promoção e outras tentam enganar os consumidores colocando um preço muito mais alto do que o normal no produto para poder então dar um falso desconto (desconto psicológico). As grandes redes supermercadistas não fogem à regra e abusam das plaquetas “De $$$ Por $$”. Uma famosa indústria de purificadores de água, em seus treinamentos, também ensina a técnica a seus vendedores: “estamos sempre em promoção”. Obviamente, uma empresa que diz estar sempre em promoção não está em promoção nunca!
Pode-se ter uma idéia da quantidade de ações e anúncios que são objeto de reclamação de consumidores ou concorrentes no site do CONAR – Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária – www.conar.org.br.
Já está na hora dos comerciantes entenderem que o uso indiscriminado da palavra “promoção” e das demais ferramentas de marketing para ludibriar o cliente, é destrutivo tanto para os consumidores quanto para seu próprio negócio e até mesmo para outros comerciantes. Aqueles que não usam a propaganda com ética, mais cedo ou mais tarde perderão seus clientes que, por sentirem-se enganados não mais voltarão. Se a coisa continuar a descambar, com o tempo, para a decepção dos anunciantes e desespero das agências e cursos de propaganda, mais e mais pessoas poderão deixar de acreditar em propaganda, que poderá perder seu efeito e tornar-se até mesmo sinônimo de enganação.
A propaganda pode ter seus efeitos comparados a um remédio. Se utilizada de forma errada, pode até mesmo abreviar a morte. Contudo, se bem utilizada pode trazer inúmeros benefícios a todos: os anunciantes podem divulgar e promover seus produtos enquanto os consumidores são informados das novidades, promoções, preços e locais de compra.
O consumidor pode até comprar um produto de baixa qualidade enganado por uma propaganda abusiva, mas esta compra não se repetirá e o consumidor lesado será sempre um competente propagandista difamador desse produto.
O Brasil, reconhecidamente celeiro de publicitários, criativos e premiados no exterior, precisa agora elevar a ética dos anunciantes ao mesmo patamar da criatividade de suas agências. 

*Prof. Sergio Enrique é Graduado em Administração de Empresas, Especialista em Marketing, Pós-graduado em Comércio Exterior, Pós-graduado em Metodologia e Didática do Ensino Superior e Mestre em Comunicação. Trainer e Master Practitioner com certificações internacionais em Programação Neurolinguística e Hipnose. Neuroeducador, Coach, Terapeuta e Professor universitário em cursos de graduação, pós-graduação e MBA. Coautor de livros nas áreas da educação, marketing e PNL. Possui mais de 150 artigos publicados em jornais e revistas. Consultor, Treinador e Palestrante nas áreas Motivacional, Comportamental e Vendas.              Visite o Blog: sergioenriquefaria.blogspot.com.br


Referências Bibliográficas

A Imagem da propaganda no Brasil. Pesquisa encomendada pela Associação Brasileira de Propaganda (ABP) ao IBOPE e ao Instituto Retrato. Jul/Ago. 2002. Disponível em <http:www.abp.com.Br/download/pesquisa_abp.doc>. Acesso em 30/06/2004.
CADERNO 6 CONAR. Notas sobre a auto-regulamentação publicitária, o código brasileiro de auto-regulamentação publicitária e o conselho nacional de auto-regulamentação publicitária. [s.d.].
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ªed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
DE SIMONI, João de. Promoção de vendas. Na teoria e na prática. 5a ed. São Paulo: Makron Books / Pearso Education do Brasil, 2002.
VAZ, Gil Nuno. Marketing institucional: o mercado de idéias e imagens. 2a ed. revista. São Paulo: Pioneira, 1995.

Nenhum comentário:

Postar um comentário